No passado dia 8 de Fevereiro, o Cifras.pt pôs a conversa em dia com a banda de metalcore bejense, HochiminH, poucas horas antes do seu concerto na Oficina – Os Infantes, que marcou o regresso do quinteto à cidade que os viu nascer.
Falámos com os guitarristas e vocalista acerca do hiato da banda, do novo álbum – que será lançado em breve – e de muito mais. Lê a entrevista abaixo!





De onde veio a motivação de criar dois EP’s assim, de rajada, após 6 anos de soneca? 

 

Skatro (S) – Esta banda foi um pouco ao contrário das outras. Nós lançámos o álbum “It Has Begun”, em 2009 e fizemos uns oito ou nove concertos de seguida, antes de parar. Não era espectável que parássemos, mas parámos. Por isso, foi um caminho diferente do normal para uma banda. Tivemos, como tu disseste, e bem, essa tal soneca. Depois, conseguimos arranjar motivação e vimos que, ao regressar, tínhamos de gravar alguma coisa. Lançámos então o EP “Shout It Out”, que está muito dentro daquilo que nós fazíamos. Enquanto gravávamos esse EP, eu disse logo ao pessoal: “Olhem, já que voltámos e lançámos isto, vamos fazer uma coisa diferente desta vez, para lançar para o ano”. Queríamos contrariar o que algumas pessoas poderiam dizer, do tipo, “ah, lançaram umas quatro músicas, agora só voltam daqui a três ou quatro anos”. Por isso mesmo, lançámos dois EP’s de seguida.

 

 

Mas porquê dois EP’s e não um álbum? 

 

S – Dinheiro, tempo… Epá, muita coisa.

 

João Rosa (JR) – Hoje em dia, já não se utilizam tanto os álbuns. A malta de hoje consome e deita fora, estás a ver? Então, queríamos lançar umas quatro músicas com impacto em vez de nove ou dez, das quais apenas uma ou duas seriam ouvidas. Nós até pensámos em lançar um terceiro EP, mas achámos que faria sentido gravar um segundo álbum, após dez anos.

 

 

O vosso processo criativo continua o mesmo ou mudou após o hiato? 

 

S – Não temos regras.

 

JR – Além de depender das motivações da banda, depende também do pessoal de fora que ajuda nesse processo criativo.

 

S – Sim, o pessoal de fora é um factor importante. É diferente quando alguém externo ouve as tuas músicas.

 

JR – Sim e tudo isso acaba por reflectir no produto final. O Vasco, um grande amigo nosso, tem-nos ajudado neste desafio em fazermos algo diferente de antes. O nosso segundo EP, “Ashes”, foi diferente do “Shout It Out” ou do primeiro álbum e o nosso segundo álbum vai ser ainda mais diferente.

 

 

E o público? Notam algum tipo de diferença no público antes e depois do vosso regresso? 

 

S – Não vejo grande diferença, estou é surpreendido por ainda termos tantas pessoas a seguirem o nosso trabalho! Sentimo-nos bastante apoiados, ainda. Sinto também que temos novas pessoas a seguir-nos, ou seja, o nosso público está a renovar. Outra coisa que me apercebo, ao contrário de antes, é que há pessoas que vêm fora para nos ver. Antes, pelo menos, não era tão visível. Hoje, por exemplo, vamos ter pessoal que vem do Algarve ou de Lisboa para nos ver, aqui em Beja!

 


E a cidade de Beja? Culturalmente, que diferenças vêm entre 2001, quando criaram a banda, e os dias de hoje? 

 

António Aresta (AA) – Há malta nova que vai integrando a cidade. Ainda assim, acho que piorou em alguns espectros. Esta cidade tinha o Beja Alternativa, o Além Rock, o Santa Maria Summer Fest, a Galeria do Desassossego, etc… Tudo isso acabou por se extinguir e sinto que a cidade perdeu com isso.

 

JR – Quando os HochiminH começaram, Beja dava mais oportunidade para as bandas aparecerem e crescerem. Como já foi dito, tínhamos o Beja Alternativa e o Além Rock. Se tu fores ver, temos mais bandas de Beja que vieram dessa altura, do que agora. Olha, os Virgem Suta! Depois dessas oportunidades terem desaparecido, acabaram por ser poucas as bandas constituídas por pessoal novo que aparecia. Agora estou só a lembrar-me dos Balão Dirigível, que até era mais ou menos parecido com o que fazíamos.

 

 

E mesmo assim, já nem os Balão Dirigível tocam… 

 

JR – Ora aí está. E desde os Balão Dirigível, eu acho que estagnou-se um bocado.

 

 

Apesar de todo o pessimismo, a Oficina – Os Infantes é um dos estabelecimentos sobreviventes, já vos tendo acolhido umas quantas vezes. Aliás, sempre que cá tocam, enchem a sala. Porque será? 

 

JR – A coisa corre sempre bem quando tocamos em Beja. Já enchemos a Casa da Cultura, com 300 e tal pessoas.

 

S – Já enchemos o Pub Sports Caffé…

 

JR – E quebrámos o recorde da maior audiência na Galeria do Desassossego, na altura. Qualquer sítio onde a gente toque, em Beja, costuma correr bem.

 

AA – Mas também, somos de Beja, temos cá amigos…

 

 

Vêem o factor de terem cá conhecidos e de nascerem cá como uma clara vantagem? Como se estivessem a jogar em casa? 

 

S – Eu diria que sim. Nós temos pessoal, cá em Beja, que nos últimos 20 anos raramente falhou um concerto nosso e dizem-nos: “sempre que vierem cá tocar, eu vou estar cá para ver”. Esta vai ser a terceira vez, se não me engano, que tocamos n’Os Infantes e esperamos encher a sala, tal como enchemos a do Pub ou a da Casa da Cultura.

 

 

Mudando agora um pouco o rumo da coisa, falemos do nome da banda. De onde veio a ideia de baptizar uma banda de metalcore com o nome de um revolucionário comunista vietnamita? 

 

 

S – Eu não queria um nome em inglês. Não queria que a banda fosse, como eu costumo brincar, os “Verification” ou os “Bring the Nation” [risos]. Durante este impasse com o nome, houve um amigo nosso que era, na altura, professor de História no Liceu, que se virou para nós e disse: “Então e que tal Ho-Chi-Minh?”. Todos nós gostámos da forma como aquilo soava: Ho-Chi-Minh. Era diferente, não era inglês e era difícil de confundir, foneticamente, com outra banda portuguesa ou até mesmo europeia, apesar de ser difícil de escrever. Mas não, não teve qualquer intenção política.

 

AA – Além disso, Ho-Chi-Minh não era o seu nome verdadeiro [do revolucionário], mas sim um cognome. Ho-Chi-Minh significa “aquele que ilumina”, sendo que nós gostámos também disso. O revolucionário recebeu esse cognome porque salvou o seu povo dos franceses.

 

S – Sim, o significado do nome Ho-Chi-Minh também foi um factor relevante nesta escolha. Não teve nada a ver com a política mas, ainda assim, admito que é capaz de ter sido uma ideia um bocado estúpida. Se fosse hoje, provavelmente não teríamos escolhido esse nome.

 

JR – Foi muito pela fonética, na altura

 

S – Mas era bastante difícil de escrever. Nós próprios já escrevemos o nome da banda de três formas diferentes: Ho-Chi-Minh, Ho Chi Minh e, actualmente, HochiminH.

 

 

Esse nome já chamou à atenção de alguém do Vietname? 

 

S – Já. Não vou dizer que foram muitos, porque não foram às dezenas ou às centenas, mas já aconteceu. Já tivemos pessoas que nos perguntaram o porquê do nome. Sei lá, devem escrever “Ho-Chi-Minh” em algum lado e aparece a banda. Já houve quem gostasse muito e passasse a seguir a banda, mas também já houve quem tenha visto isso como uma ofensa e que nos tenha dito que devíamos todos ter vergonha.

 

AA – Posso dizer-te que a nossa banda tem uma página na Wikipédia vietnamita. Entretanto, nem na Wikipédia portuguesa. [risos]

 

 

Por fim, quais são as diferenças que vêem entre as bandas de metal que aparecem agora e as que apareciam há 20 anos? 

 

S – São muito menos as bandas que aparecem agora, comparado com as que apareciam há 20 anos, mas são de maior qualidade. Antes, um puto aprendia a tocar guitarra porque um amigo ensinava as técnicas e tudo mais. Hoje existem milhares e milhares de tutoriais no YouTube e a informação está logo ali. Os putos de hoje têm muito mais conhecimento. Já não se vê pessoal a pôr amplificadores em cima de cadeiras e assim. Os conhecimentos do YouTube, quando bem assimilados, são uma excelente ferramenta.

 

Foto de destaque: Sabena Santos Costa




Adicionado por

João Pedro Antunes

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