Deixo o carro um pouco longe do recinto, com medo de não apanhar estacionamento, e faço uma pequena caminhada seguindo as variadas placas em forma de guitarra, imaginando o que me irá esperar da noite de abertura do Woodrock. Chego ao palco Mato um pouco depois das 22h, com receio que esteja já a perder os primeiros minutos musicais e deparo-me com um silêncio, acompanhado por conversas isoladas aqui e ali, quase que por respeito pela natureza que nos envolve.

 

 

O espaço, apesar de ainda um pouco vazio, transmite-me logo a sensação que, quando a música começar a soar, vai ser uma noite interessante. Apesar disso, tenho que esperar 1h e 30 minutos devido a problemas técnicos, o que não me surpreende, visto que organizar um festival ao ar livre já é difícil, quanto mais numa clareira no meio de dunas. Entretanto o palco Mato enche, com a maioria das pessoas sentadas no chão a conversar e a olhar o céu estrelado e, mal as primeiras notas disparam do palco, vê-se sorrisos e abanar de cabeças. O Woodrock começa oficialmente.

 

Quem tem o prazer de abrir a noite são os Wildnorthe, uma dupla em gravação (Sara Inglês e Pedro Ferreira) que se transforma em trio nos concertos ao vivo (João Vairinhos na bateria analógica). Este projecto nasceu em 2012, em Lisboa, e faz soar, emoldurado pela natureza, um rock com umas pinceladas de dark electrónico, criando algo que nos faz apetecer levantar e dançar. Apesar disso, o público manteve-se na sua maioria sentado a curtir, em parte talvez pelo cheiro a ervas medicinais que se sentia no ar mas, na minha opinião, mais maravilhados pela capacidade de apenas 3 pessoas produzirem tantos sons diferentes, mas harmoniosos, criando assim um ambiente de acordo com o espaço.

 

 

 

Depois de Lisboa, foi a vez de Viseu dar cartas e, seguindo numa direcção oposta à primeira banda, os Galo Cant’Ás Duas começaram por pedir às pessoas que se aproximassem um pouco mais, de modo a criar algo mais intimista. O duo, Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre, nasceram em 2017 num registo de improviso, sendo que é exactamente essa a sensação que temos quando os vemos tocar em palco – 2 músicos envolvidos no momento, a curtir tanto como o público, que já abanava a cabeça mais agressivamente. Para mim, talvez a banda da noite. Um casamento musical feliz, com o Hugo a desbravar mato na bateria e a deixar o Gonçalo entrar com as melodias e os riffs. Um rock puro, com traços mais modernos e sem medo de encurtar músicas para a “norma” da música popular, levam-nos em viagens que me fizeram lembrar um pouco das viagens em que embarcava quando ouvia os 30 minutos de “Thick as a Brick”, dos Jethro Tull.

 

 

Acabado o segundo concerto eis que entram em palco pessoas vestidas com vestes brancas, a lembrar um pouco as do KKK, com uma cruz ao peito. Logo de início a reacção é: “O que é que estou prestes a ver?” El Altar Del Holocausto, vindos de Espanha, destroem ainda mais a barreira entre o público e a banda, sugando as pessoas até 1 a 2 metros do palco, muito pela curiosidade e pelo rock puxado, criando quase um ambiente de culto. Por pouco não se criou um moche, mas o espaço também não era o ideal para isso. Um concerto mais longo, de pura velocidade e poder. Um público já bem acordado, com um headbanging sincronizado, teve capacidade de manter a energia ao longo deste teatro musical, sendo que as pausas chegavam nos momentos ideais.

 

 

 

Se ao longo da noite a intimidade entre a audiência e as bandas ia aumentando e a barreira que nos separa dos artistas diminuindo, os Putan Club foram o pináculo desta relação. Dois pequenos tapetes são colocados no espaço que normalmente pertence ao público, separados por alguns metros, ignorando por completo o palco montado. Dum lado Gianna Greco, com um baixo poderoso, e do outro François R. Cambuzat, com uma guitarra ao mesmo nível. Quase como um arrufo de casal, desafiavam-se um ao outro, constantemente, com a música como fio conductor. Esta banda francesa acabou em grande a primeira noite, num rock electrónico, com um cheirinho a techno.

 

 

 

 

Para veres mais fotos do primeiro dia do Woodrock segue-nos no Instagram: @cifraspt

 




Adicionado por

João Ribeiro

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