Nesta segunda edição da rúbrica Patriotismos Acelerados, apresentar-vos-ei Ivy, pseudónimo da bracarense Rita Sampaio, que lançou no ano passado o seu álbum de estreia: “Over and Out“.
Para entender melhor o trabalho de Ivy – em especial o disco “Over and Out” – é necessário entender, primeiramente, que se trata de uma artista navegadora. Sonoramente, por navegar em mares de Art Pop, Dream Pop e até mesmo IDM (fazendo lembrar nomes como Surma, Sigur Rós ou Björk na era do “Vespertine“); e liricamente, por não ter medo da introspecção, explorando a sua mente de forma sombria, intimista e até mesmo cósmica. Ao longo desta viagem replecta de agnosticismos melancólicos, que dura pouco mais de meia hora, Ivy efectua um despir de emoções bastante honesto, relacionando-se de forma bastante mágica aos instrumentais vibrantes e cósmicos.
O tema da excessiva auto-análise é o que mais se verifica neste LP. Desde “Same Old Dog”, uma observação à forma como o Ser Humano pensa estar a evoluir individualmente como pessoa quando poderá, afinal, estar submerso numa imensa ilusão, caindo não propositadamente numa estagnação; a “Infinite Loneliness”, um poema que serve muito de interlude, abordando liricamente o conceito do Homem enquanto Ser Social. Destaca-se também a ocasional presença de contrastes lírico-musicais, sendo “Afraid of Nothing“, talvez, o melhor exemplo disso. Nessa faixa, podemos ouvir um instrumental que transiciona constantemente entre o simplista e os clímaxes poderosos. Tudo isto acompanhado de uma letra que contradiz indirectamente o próprio título, a partir de uma mentira que Ivy conta a si própria, afirmando a inexistência do medo (especialmente mas não unicamente a monofobia), com o fim de parecer “forte” e “corajosa”.
Porém, as letras pouco ou nada significariam se não fosse a musicalidade. No fundo, trata-se de uma obra que se constrói de forma bastante lenta, mas num bom sentido. Se o processo tomasse uma velocidade ligeiramente mais acelerada, provavelmente perderia-se grande parte da transcendência. Claro, também há que dar crédito aos sintetizadores de tom baixo e pesado, que deixam um ambiente de levitação, principalmente nas faixas “Black Matter” e “I Miss Myself“, que são, a meu ver, os clímaxes do álbum. Após “I Miss Myself”, o LP volta a descer ao tom com que originalmente começou, dando assim ênfase à progressividade de “I Saw You Playing the Piano“, que em si abre portas para um final imensamente satisfatório em “8h17AM“, que conta com a participação de Rui Gaspar, membro dos First Breath After Coma.
No fundo, vejo este álbum como uma perfeita obra-ocasião, direccionado para moods específicos. Claro, entendo quem o considere monótono ou aborrecido, principalmente devido ao facto de se construir tão lentamente. No entanto, vejo Ivy como uma promessa no panorama musical português, que está a crescer aos poucos, tendo até mesmo sido convidada por Xinobi, um dos maiores nomes da música electrónica portuguesa, para participar no seu single “The Moment” que, apesar de possuir uma vibe mais upbeat e clubbing-friendly, não se afasta muito da transcendência do álbum comentado acima.
Por todas as razões referidas acima, Ivy é o patriotismo acelerado desta semana.
Três músicas para conhecer Ivy: “Afraid of Nothing“, “Black Matter” e “The Moment“
João Pedro Antunes
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