O Cifras.pt esteve, no passado mês de Dezembro, com o Paulo Ventura – guitarrista dos Serrabulho – durante o segundo dia da vigésima edição do Butchery At Christmas Time. Originários de Vila Real, a banda é formada pelo Paulo, pelo Guilhermino (baixista), pelo Ivan (baterista) e pelo Guerra (vocalista) e contam já com 3 álbuns e várias colaborações.




Gostávamos que nos falasses de dois momentos da vida dos Serrabulho: o primeiro concerto, e a primeira vez que olharam uns para os outros e decidiram que era mesmo isto que queriam fazer.

 

Paulo – O primeiro concerto dos Serrabulho foi em 2011, no Birras, na Covilhã, organizado pelo Micael (organizador do Butchery At Christmas Time), onde acabou por ser mais uma noite experimental. Tudo começou com o nosso antigo baterista, o Nuno Nogueira. Estivemos enclausurados na nossa sala de ensaios praticamente um ano e, com o contributo do Micael, decidimos expor o nosso trabalho ao público para ver o que acontecia. Não decidimos “vamos ser uma banda, vamos tocar muitas vezes”, porque queríamos entender primeiro qual seria a reação do público, já que todas as bandas dependem dele. Podemos ser tecnicamente muito bons e dar espetáculo, mas se ninguém estiver a ver, não adianta. Além disso, o género de som que tocamos já era ouvido em Portugal e os nomes mais conhecidos que o praticavam já tinham o seu público feito. Visto que somos uma banda de Trás-os-Montes, também é mais difícil tocarmos, comparando com bandas conhecidas das grandes cidades, que facilmente têm um grande espaço para tocar. Mas coincidência ou não, estamos hoje, aqui, no Butchery, depois de 20 anos a acreditar que Serrabulho poderia mostrar algo diferente.

 

 

E acabou por ser o Micael que vos lançou a partir da sua editora?

 

P – Exatamente. Nós fizemos uma série de concertos pontuais, porque também não era fácil marcar, além de não termos assim tantos contactos. Apesar disso, fomos causando algum impacto e as pessoas começaram a falar de nós. Inicialmente, aqueles que nos viam eram amigos chegados, que foram dando força para continuarmos. As coisas começaram a tornar-se mais sérias e nós percebemos que poderia haver um mercado para Serrabulho, que, até ali, na minha opinião, não havia nenhuma banda que fosse melodicamente semelhante. Tínhamos 10 temas e muitas vezes chegávamos ao final e as pessoas pediam-nos para repetir, sendo que tinham de ser as mesmas músicas porque não tínhamos mais que isso. O Micael sempre deixou a ideia de que, se quiséssemos editar alguma coisa, fosse o que fosse, para falarmos com ele. E assim aconteceu, em 2013.

 

 

Relativamente à melodia e ao visual, como surgiu a vossa identidade, como banda?

 

P – Nós nunca pensámos no visual. Havia bandas internacionais que seguíamos e gostávamos, principalmente aquelas que usavam temáticas, tipo insufláveis e bóias. Reparámos que, em Portugal, ainda não havia isso e tentámos enveredar por aí. Tudo começou com uma brincadeira – a primeira vez que nos apresentámos, levámos uns fatos quaisquer, com roupas de senhora, fatos de pintor, enfermeira, uns chinelos de javali… (risos) No segundo concerto variámos as fatiotas e pegou no público. Curiosamente, no sétimo/oitavo concerto, as pessoas começaram a chegar já com as suas fatiotas vestidas para nos ver. Talvez quem tenha criado o culto de vestir algo diferente, foi o próprio público. Contávamos com os fatos de carnaval que os nossos amigos tivessem em casa e passámos cada concerto a levar quatro fatos diferentes. Serrabulho tornou-se numa forma de passares o tempo a ver uma banda, de uma maneira divertida.

 

 

Seja no merchandising, capas de álbum e nas próprias letras, o humor é um tema bastante recorrente da vossa identidade. Quando uma pessoa pensa em death metal e grind core, não há muitas bandas a juntarem humor ao espectáculo. Sentiram que, no início, foi difícil o público levar-vos a sério?

 

P – O objetivo de Serrabulho, pelo menos na minha opinião, nunca foi as pessoas nos levarem a sério, porque nunca pretendemos que a maneira como estamos em palco ou como nos vestimos fosse seguida como uma regra. Nós em palco estamos super descontraídos, já que a nossa atuação começa bem antes. Quando chegamos ao local de atuação, falamos com as pessoas, interagimos com o público e fazemos questão disso, porque é meio caminho para, quando chegarmos ao palco, as pessoas já estarem com vontade de nos ver. Claro que gostávamos que as pessoas tivessem também uma perspetiva séria nossa. Nós estamos a fazer uma coisa divertida, mas perdemos tempo, em estúdio, a trabalhar.

 

 

Quem é que faz as capas dos vossos álbuns?

 

P – É uma amiga nossa, a Marta Peneda, que tirou o curso de artes. Nós, enquanto banda, temos ideia daquilo que vai ser o álbum e damos uma sugestão, por vezes aleatória, daquilo que poderá ser a capa. Depois, a Marta absorve e transforma-a com o cunho dela. Foi ela que nos fez as três capas e, se tudo correr bem, e houver vontade e tempo da parte dela, a quarta capa será também feita por ela.

 

 

Fala-nos do vosso processo criativo. Manteve-se sempre igual ou foi mudando à medida do tempo?

 

P – Por norma, eu, enquanto guitarrista, crio a melodia, o ritmo, e mais tarde junto-me ao Guilhermino e ao Ivan, onde acabamos por compor a música, na totalidade. Muitas vezes eu tenho riffs que acabamos por trocar e fazer outras coisas, ou músicas que foram escritas de uma maneira e gravadas de outra. As letras é o nosso vocalista, o Carlos, que as faz, juntamente com uma amiga nossa, a Susana Catalão. Ela, tal como a Marta, consegue captar as nossas ideias, às vezes malucas, e transformar tudo isso em letras. Quando se fala que Serrabulho é alguma coisa machista, composta por quatro homens, não é verdade, já que temos duas mulheres, muito importantes, na nossa vida, enquanto banda.

 

 

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@serrabulhogrind – Butchery at Christmas Time XX 14/12 📷 Evento organizado por Neverlate – Associação Cultural

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Acerca do vosso novo álbum, “Porntugal [Portuguesa Vagitarian Gastronomy]”, quanto tempo demorou a gravação?

 

P – Demorámos cerca de um ano, entre ensaios e preparações. Este tempo deveu-se também às atuações que tínhamos. Nós sabíamos que era necessário parar para conseguir criar alguma coisa nova, contudo, com a avalanche de concertos marcados, era difícil arranjarmos um tempo. Não foi fácil mas conseguiu-se. Tivemos de deixar de fazer um concerto ou outro, mas explicámos o porquê e as pessoas entenderam.

 

 

Vocês chegaram a tocar em vários países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, entre outros. Tendo em conta as barreiras linguísticas, fala-nos dessas experiências.

 

P – Até hoje, já tocamos em 17 países diferentes, desde 2012. Demos 170 concertos e mais de metade deles foram no estrangeiro. Não sei se é por ser um nicho maior ou se os produtores têm mais facilidade em cativar mas, no entanto, nunca sentimos barreiras linguísticas, já que há sempre uma linguagem internacional. Já apanhámos promotores que não falavam bem inglês e então aí não havia outra forma, senão falar por gestos. Mas sempre nos entendemos e nunca tivemos grandes problemas, nem por mensagens, chamadas ou frente a frente.

 

 

Segundo o vosso Facebook, vocês têm bastantes pólos opostos como influências, como Quim Barreiros e Iron Maiden. Em que medida é que achas que conseguem conjugar essas inspirações tão diferentes e produzirem um som tão próprio?

 

P – Nós crescemos com amigos, familiares e pessoas mais velhas que lidavam com esse género de música e acabámos por ouvir essas influências. O Quim Barreiros porque está ligado à zona do Norte. É um cantor muito conhecido e frequentou muitas vezes festas de vilas, perto de Trás-os-Montes. Identificamo-nos com ele, porque, tal como nós, usa na sua música o humor, a ironia, o sarcasmo e duplos sentidos. Colocámos Iron Maiden como podíamos ter colocado outras bandas da década de 90, porque foram aquelas que, quando tínhamos 12/13 anos, começámos a ouvir. Foram os primeiros sons de metal e, de alguma forma, isso também nos influenciou. Por isso temos este mix de culturas que acaba por ser a nossa cultura.

 

 

Relativamente a datas futuras, onde é que a malta vos pode ver?

 

P – Vamos atuar no Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro, em França. Em Abril, vamos tocar ao Moita Metal Fest e depois temos ainda uma sequência de datas que vão ser anunciadas, nomeadamente festivais lá fora. Neste momento, estamos naquela fase em que vai sair alguma coisa, mas também ainda não podemos divulgar.

 

Guião da Entrevista: Marianna Miquilito e João Pedro Antunes
Gravação: João Pedro Antunes
Edição: Mariana Ferreira



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