No passado dia 15 de Fevereiro, os Puro Nojo e os Crab Monsters levaram o punk ao condomínio associativo da Covilhã, naquela que foi mais uma noite de concertos organizados pela Neverlate.
Começando cá fora na conversa e no convívio, pouco depois das 22:30 começam a ouvir-se sons característicos de um sound check, altura em que o pessoal apaga o cigarro e entra por um corredor estreito, que vai dar a uma sala pequena. Ao comparar o tamanho da sala com o número de pessoas que se encontram lá, já da para perceber que esta será uma experiência diferente da maioria. No final da sala está o palco, onde apenas há espaço para os instrumentos e os amplificadores.
Os Puro Nojo, de Aveiro (ou d’Abeiro, como preferem), estão encarregues de abrir a noite e aquecer o pessoal, coisa que fazem com uma eficácia fantástica. Sem apresentação nenhuma, começam por nos dar um cheiro do que está para vir, até que, terminando a primeira música, dizem-nos para nos aproximarmos ainda mais e para não termos medo. Com uma bateria, duas guitarras, um baixo e várias vozes, o que sentimos é uma parede de som, com um espaço mínimo para o silêncio, coisa que o público parece apreciar, considerando o head banging que se vê. Entre cada música, há apenas algumas palavras cómicas que a introduzem, como antes da “P*tas na Noite” – “Nós só temos duas músicas sobre p*tas e esta é uma delas!” Apesar de estarem a tocar para um público que dificilmente os conhece, na “Ultramar Love”, e devido à facilidade do refrão – Alfredo! – o público energético devolve os “Alfredos” no mesmo tom. Para acabar, dedicam a música final – #Tudomerda – a todos os presentes, que aceitam a farpa cómica com risos. Antes de a música acabar, a luz vai-se a baixo, mas o companheirismo do ambiente é tão grande que algumas pessoas da audiência apontam umas lanternas para o palco, criando um clima ainda mais intimista.
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Alguns minutos depois, é a vez dos mais experientes, os Crab Monsters, a partir tudo. Com apenas uma luz vermelha a criar uma atmosfera infernal, o grupo da Beira traz-nos músicas do seu álbum “High on Guts”, editado pela Hell Xis Agency. “Rock N’ Roll a 300 km/h” é o termo que usam para descrever o seu som, sendo que, do espectáculo que deram, não há dúvidas que a descrição é precisa. O à-vontade e o ambiente amigável que se sentia deu ainda tempo para uma piada, contada pelo vocalista, Granada: “Porque é que as cuecas das chinesas têm dois buracos? Para enfiarem as duas pernas”. Toda a performance é realmente um “vale tudo”, com pratos da bateria do Jordi a irem ao chão, saltos energéticos do Batista (num palco que à primeira vista não daria para isso), crowdsurfing do Granada e um contínuo e energético mosh pit, do início ao fim – tudo isto resultado da música energética que a banda beirã nos oferece.
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No final da noite, tivemos ainda a oportunidade de conversar um pouco com o Micael Olímpio – presidente da associação cultural da Neverlate – sobre esta iniciativa, o ambiente que se cria e as bandas que passam por aqui.
Boa noite, Micael. Fala-nos um pouco desta iniciativa da Neverlate em trazer concertos periódicos, à cidade da Covilhã. Há quanto tempo fazem isto?
Micael – Basicamente, estes concertos regulares nascem já há muito tempo, antes da criação da Neverlate. Já fazia concertos no Birras e noutros locais e, entretanto, quando formámos a Neverlate, inserimo-los nesta associação. Quando nos deram uma sala para a sede, decidimos começar a fazê-los aqui. Claro que, a partir daí, começámos a ter concertos ainda mais regulares, porque já temos o espaço equipado e é mais fácil organizar. Daí que, normalmente, fazemos sempre mês a mês.
Há sempre esta ideia de tentar trazer uma banda mais local e uma banda mais de fora?
M – Essa sempre foi uma ideia. O problema é que não há muitas bandas locais, seja no punk, no metal, ou onde for. Por isso, acaba por ser complicado fazer o cartaz, mas temos conseguido até agora.
Relativamente ao cartaz, fala-nos de algumas bandas que já passaram por aqui.
M – Para o próximo mês vamos ter aí os Divine Ruin. Se não me engano, até foram eles que vieram inaugurar a associação, na altura, com os Zurrapa. Entretanto, já trouxe bandas do norte e estou sempre a tentar trazendo outras bandas. Nós no Verão não organizamos, porque está muito calor dentro da sala e há outros festivais de Verão. Normalmente, só começamos a organizar em Setembro, Outubro e Novembro. Relativamente a bandas, já trouxemos os Ashes Reborn, de Guimarães e até já trouxemos bandas do Brasil. A propósito disso, vamos trazer uma banda do Brasil, em Maio. Há sempre esta tentativa de tentamos sempre trazer de vários pontos.
Nesta iniciativa, tens notado algum crescimento da aceitação do público da zona a este tipo de géneros menos mainstream?
M – Quem vem, normalmente, é pessoal que está ligado à associação. O que não quer dizer que não haja um concerto ou outro em que venha mais gente. Aliás, nos últimos concertos, até é algo que se tem vindo a revelar. Significa que estamos a chegar a outro público e daí, se calhar, há uma aceitação diferente. Ainda assim, não estou a ver uma pessoa que seja ultra conservadora ou que não goste de punk e metal a vir. Apesar disso, punk nem é bem o caso, porque este foi o único dia em que fizemos totalmente com bandas de punk, já que, normalmente, misturamos géneros. Mas os concertos estão a ser falados e aquilo que nós criamos aqui, basicamente, é um ponto de promoção para as bandas. Se elas lançam um trabalho que queiram passar na Covilhã, eles têm aqui condições para tocar.
Em termos de ambiente, o que é as pessoas podem esperar?
M – O ambiente é espectacular. Vocês repararam no tamanho reduzido da sala. O pessoal, a partir das 23:00, já está desinibido e já sabe o regabofe que há aqui. Claro que é pessoal bem comportado, sem dúvida, mas vêm para se divertir, no final da semana. E acho que apesar de a sala ser muito pequenina, é uma vantagem – os concertos são muito intimistas.
Como é que as pessoas podem saber da existência destes concertos e onde podem comprar os bilhetes?
M – Basta seguirem a página do facebook da Neverlate e para comprar os bilhetes é aqui, na noite do concerto. O preço varia entre sócios (5€) ou não sócios (6€).
João Ribeiro
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