O Cifras.pt esteve com o Rodrigo, o António, o Gonçalo, o Diogo e o Pedro, mais conhecidos pelos Puro Nojo, no passado dia 15 de Fevereiro, na sede da Neverlate, na Covilhã, depois do seu concerto, inserido numa noite de punk. Falámos sobre o início da banda, a mensagem que querem passar, o seu primeiro concerto e muito mais! Lê a entrevista abaixo!
Lemos na vossa página do facebook que esta banda começou após uma pergunta muito simples, numa noite, às 3 da manhã: “Então e a nossa banda de punk?”
Diogo – Confere.
António – À porta de um bar, todos bêbados.
D – Basicamente, é uma história que já andava a decorrer há 1 ano. Sempre que nos víamos na noite, aparecia essa pergunta, mas assim na brincadeira. Houve uma noite em que me virei para o Rodrigo e perguntei: “então e a nossa banda de punk?”, ao que ele me responde: “epá, vamos lá.” Eu disse-lhe: “então, eu toco guitarra, tu cantas, o Almeida está ali, é guitarrista. Ó Almeida, estás na nossa banda! Então e baterista?” Passado um bocado, o Rodrigo telefona ao Gonçalo.
A – “Ainda tocas bateria?”
D – Sim, nem boa noite, nem nada. [risos] “Tocas bateria? Então vamos tocar na terça.”
Gonçalo – Depois, eram 2 guitarristas, 1 baterista e 1 vocalista. O Tó trabalha comigo, é baixista e então…
A – Eu também já andava a picá-lo com essa mesma pergunta, sem saber da banda de punk deles.
Relativamente ao conceito dos Puro Nojo – a hipocrisia social, ambiental, entre outras. É um tema que vocês sentiram necessidade de trazer à baila?
D – Nós não queremos ser 100% sérios, mas também não queremos ser 100% cómicos. Basicamente, a nossa identidade é o que está lá no nosso manifesto, no facebook. Somos contra o capitalismo, mas estamos a escrever isto num Iphone e somos contra o que se passa na China, mas calçamos Adidas. Nós somos parte do problema, não queremos ir para cima do palco e ser hipócritas.
Pedro – Nós somos os primeiros nojentos – Os Puro Nojo. Nós somos contra nós próprios.
Rodrigo – Contra toda a gente, mas incluímo-nos na nojice do mundo.
P – Ninguém nos vai apontar o dedo e dizer: “mas vocês estão-nos a chamar isto e aquilo?” Não. Nós criticamo-nos a nós próprios, em primeiro lugar, basta olharem para as nossas letras. A gente critica tudo e mais alguma coisa. Criticas positivas, negativas.
D – Quais são as positivas? [risos]
P – As positivas são… Leiam e aprendam. Se calhar a gente até está a dar lições de história, já que há muita gente que não sabe o que é o Ultramar. Ainda não eram nascidos.
Falem-nos um pouco da importância do Post Lab Aveiro no vosso começo, enquanto banda.
D – É tudo. Post Lab é tudo, para nós.
G – É a sala de ensaios e foi o sítio onde fizemos o primeiro concerto.
Como foi esse primeiro concerto?
P – Eu já tive 4 ou 5 bandas e tive que esperar até esta idade para ter o meu melhor primeiro concerto.
D – Pensámos claramente em acabar a banda, depois desse concerto. Acabar em alta.
A – Criámos o mito à volta disto, durante meses, damos o primeiro concerto e acabamos. Opá, quem não foi, f*deu. [risos]
P – Nós conseguimos jogar muito com a ferramenta da Internet. Spam, spam, spam. Puro Nojo, Puro Nojo, Puro Nojo. Gravar ensaios, entre outras coisas. Tenho a impressão que, muita gente que lá apareceu, foi naquela cena de, “que raio é Puro Nojo? Ouvi umas músicas gravadas em telemóvel…”
R – E pelo conceito, também.
Relativamente a inspirações – vocês conseguem ir todos beber à mesma fonte, ou há muita diversidade dentro da banda?
A – Nada disso. Eu curto muito Santana! [risos]
D – O meu background é black metal, por exemplo.
P – Essa é uma pergunta que pode ser feita a cada um de nós, que vai dar respostas todas diferentes.
D – Mas depois converge. Aliás, tem de convergir, porque uma banda não funciona se não houver convergência musical e criativa.
P – Eu toquei numa banda de reggae, durante 15 anos e numa banda de metal. Agora estou numa banda de punk e comprei a minha primeira guitarra, por causa dos Nirvana. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
A – Dá para apagar esta parte? [risos]
Para quem não vos conhece, o que é que podem esperar de um concerto vosso, ao vivo?
D – Eu não te vou dizer que é mal tocado, porque não é, mas somos todos autodidactas. Tirando o António, que apesar de ser o mais novo, costumamos dizer que é o melhor músico, os restantes aprendemos a tocar sozinhos. Eu aprendi a tocar, em casa, a fazer riffs repetitivos de 10 minutos, na minha cena de black metal. O Almeida foi a tocar Nirvana.
P – A “Come as you are” – foi a primeira música que toquei na guitarra.
D – E aqui o Rodrigo foi a ouvir os Ratos de Porão, infinitamente. [risos]
P – Mas a cena dos nossos concertos é que o pessoal tem de vir completamente de mente aberta, para se divertir.
R – Eu, em relação a isso, acho que a música é muito de sentimento e não é tanto da cena técnica. Há quem goste da técnica, não tiro valor. Mas especialmente o punk e este tipo de música, é um som que tem a ver com a emoção. Tecnicamente, se calhar, não estamos assim tão à frente, mas de sentimento temos de sobra.
P – Eu acho que hoje fizemos cerca de 2 horas e tal de carro e estava ontem a dizer à malta: “se aparecer uma pessoa, a gente toca igual”. Porque o que fazemos em palco, é o que fazemos nos ensaios. Podemos estar a tocar…
R – … para 1 ou para 100, é igual.
D – Sim, na semana anterior estávamos a tocar em casa, sendo que, logicamente, tens outro à vontade e o próprio público também. Nós percebemos que houve ali uma série de pessoas que nós conhecíamos e que nos queriam ver. Foram ouvir as nossas gravações dos ensaios, feitas com um telemóvel e perceberam uma série de refrãos e…
A – … Refrões.
D – É refrãos, vais ao dicionário e é refrãos! [risos]
G – Ou refrães? [risos]
D – O que eu estava a dizer é que, mesmo as pessoas que não foram ouvir nada e foram à descoberta, como estava um ambiente tão extremo, uma cena tão caótica, elas entraram no filme. Por exemplo, a “Ultramar”, que tem um refrão simples: “Alfredo, Alfredo, no Ultramar”, estava a ser cantada por toda a gente, porque estávamos em casa. Aqui na Covilhã foi diferente.
R – Mas achei a situação boa, gostei.
D – O que eu acho que aconteceu aqui é que o pessoal estava atento e estava a tentar perceber o que é que ia acontecer. Mas fomos aplaudidos e sentimo-nos bem, foi altamente.
P – Mas isso acontece a todas as bandas. Se Crab Monsters fossem a Aveiro, nos primeiros tempos, o pessoal também ia estar a tentar perceber o que era.
Ainda assim, podemos garantir-vos que ouvimos, hoje, alguns “Alfredos”.
P – Isso é fixe, porque começa a criar aquela cena. Palavra puxa palavra, do género “vamos ver aqueles gajos que estão a gritar pelo Alfredo” [risos] Se calhar até têm um pai ou um avó chamado Alfredo e identificam-se com a música.
R – E é tudo em português. Somos portugueses, tocamos em Portugal, por isso é importante.
D – Por acaso não temos nenhuma cover, mas o que todos decidimos é que, se tivéssemos, tinha de ser de uma banda a cantar em português.
R – Ou adaptar, talvez.
A – Pedro Abrunhosa, ou o c*ralho.
R – Carlos Paião! [risos]
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Relativamente aos vossos ensaios, também lemos no vosso facebook que eles são abertos a toda a gente que trouxer uma garrafa de bagaço e que não tenha tomado banho nesse dia. Já se arrependeram dessas condições?
P – Ainda não!
D – Houve uma vez em que ninguém levou bagaço, mas o Milton, um dos responsáveis do Post Lab, chamou-nos a meio do ensaio para bebermos uns shots de uísque.
A – Mas a malta continua a ir sem tomar banho. [risos]
R – Sim, mas toda a gente é bem vinda aos nossos ensaios. Acabamos por dar concertos para os nossos amigos.
P – Foi o que eu disse há pouco. O nosso comportamento no palco é igual aos ensaios, porque nós temos sempre 1 ou mais pessoas a assistir. Então, um gajo tenta sempre mostrar o melhor, sendo que o pessoal curte.
D – Sim, no último ensaio de preparação, antes de virmos para aqui, foi lá um amigo nosso e a certa altura já estava a cantar.
Para acabar, onde é que a malta vos pode ver no futuro?
A – No mundo.
P – A única data que temos mesmo confirmada é 23 de Maio, na Avenida Café Concerto, em Aveiro. É com os Prottoblaster, nós, Duck, Narcomancer, Soul of Anubis e falta uma banda que ainda não está confirmada. Mas até lá, apesar de não estar nada marcado, de certeza que vamos dar mais uns concertos.
R – É ficar atento à redes sociais – Puro Nojo, no facebook.
P – Fazemos sempre questão de, quando acontece qualquer coisa de novo, nem que seja uma fotografia, publicamos no facebook. Estamos sempre a actualizar o pessoal do que está a acontecer.
D – Quando percebemos que, ao fim de duas ou três semanas, não há nada novo, pomos lá uma frase qualquer a provocar ou vamos recuperar uma música antiga.
P – Foi isso que, provavelmente, chamou tanta gente, na semana passada, ao concerto em Aveiro. Foi tudo à descoberta.
João Ribeiro
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