Teófilo Sonnemberg, mais conhecido por Berg, é um músico e cantor com 20 anos de carreira nacional. Além de já ter integrado bandas de artistas como Rui Veloso, conta já com 4 álbuns lançados e o primeiro lugar do Factor X, em 2014.
No passado dia 12 de Abril, antes de uma actuação privada no restaurante Montiel, na Covilhã, o Cifras.pt esteve à conversa com o Berg.
Tens que passar o resto da tua vida numa ilha deserta e podes levar um álbum, um livro e um filme. Quais levas?
Um álbum? Levo um dos Massive Attack. Um filme? Possivelmente o “Nell”, com a Jodie Foster. É a história de duas gémeas, cuja uma ficou em estado selvagem e vivia como um animal selvagem. Adorei esse filme. Ou talvez o “Babel”, visto que é mais recente e menos frio. Um livro? Porque não os Lusíadas? Tira-se umas letras e podes tocar uns acordes. Nunca li os Lusíadas, à exceção do que líamos na escola.
Sei que começaste no snowboard na Suíça e quando vieste para Portugal entraste um pouco na onda do surf.
Passei um bocado para o surf, mas foi assustador. Terrivelmente assustador, apesar de já ter tido umas experiências muito novo. Cresci na Suíça, na neve, num ambiente do ski e do snowboard e voltei 18 anos depois ao surf. Tinha uns amigos já todos profissionais e eu ali. O que eles achavam ser um mar calmo e acessível, para mim eram tsunamis. Apanhei sustos descomunais, mas até hoje faço surf. Também ajuda morar na praia, na Caparica. Sou um gajo do Porto, mas casei com uma alentejana e fui morar para a Caparica. Adoro. Não trocava por nada. Adoro Portugal inteiro, mas o clima lá é muito mais fixe.
E achas que o surf vai ser o último desporto radical por que te apaixonas ou tens já outro em mente?
Um gajo não se faz novo, não é? Mas acho que dá para surfar até aos 70. Conheço muitos pais amigos que surfam ainda longboard. Acho que vou continuar para sempre. Todos os dias faço surf, basicamente. Ainda hoje dei uma surfada – pequenina, mas dei uma de manhã. Eu moro mesmo a um minuto da praia da Caparica.
Como pessoa, como é que te descreves em três palavras?
Disfuncionalmente bem feliz.
E o artista numa combinação de três géneros musicais?
Eu diria estar sempre ligado ao gospel, ao R&B e ao soul. Ou talvez R&B, soul e pop. Gosto de tudo, o problema é esse. Gosto de ouvir um tango, fico apaixonado por aquilo. A seguir estou a ouvir Beyoncé e Ed Sheeran e estou a curtir. E depois ouço Rihanna, e depois Björk, Estás a ver? É difícil.
Tens dois álbuns com o teu nome, um de 1999, e um de 2014. Musicalmente, quais são as grandes semelhanças entre o Berg de 1999 e o de 2014?
O fator comum é que nunca foi um disco meu. Eu vim para cá por ilusão das editoras. Elas deturpam tudo. Imagina tocares o “Love Me Do” dos Beatles e teres de o traduzir para português? Dá: “Ama-me, ama-me muito”. Estás a ver? Não dá. E foi isso que eles fizeram. Eu vinha muito duma cena de lá fora e eles queriam aportuguesar a coisa. Eu adoro música portuguesa, mas tem de ser feita de raiz. Por isso é que falo sempre do Tiago Bettencourt, de artistas que eu gosto. Tem de ser genuíno, como o António Variações era.
Se o Berg de hoje pudesse voltar atrás no tempo e dar alguns conselhos ao Berg de 1999 o que é que diria?
Se pudesse voltar atrás tinha feito outras escolhas, sobretudo das pessoas e da equipa que me rodeava. A equipa que me acompanhou é a equipa que acompanha artistas de topo em Portugal e comigo não se passou nada disso.
Um pouco como a história do ovo e da galinha, fala-nos um pouco do teu processo de criação. O que é que vem primeiro? A música ou a letra?
Normalmente é a música e, agora, estou a tentar escolher letristas amigos e inspirar-me mais nisso, se não acaba sempre por ser mais do mesmo. Senão funcionou, a culpa também é minha, não é? É porque alguma coisa não está a chegar diretamente às pessoas e, então, talvez mudar um bocado o processo ajuda. E tem ajudado.
Notámos que gostas de usar coros e back vocals nos teus álbuns. Isso é consequência de teres feito alguns projetos desse género ao longo da tua carreira e teres visto em primeira mão o impacto que isso tem no resultado final duma música?
Completamente. O problema é que eu sou um artista novo. Eu, este ano, estou a festejar 20 anos de carreira, mas na realidade tenho 6 anos de carreira, cá em Portugal, como artista. Eu sempre fui música de elite, de pessoas conhecidas e multi instrumentista. Os coros estavam sempre presentes. Sempre fiz coros, sempre toquei outras coisas. Há muito esse lado do músico que agora é artista e isso nota-se. Eu toco as coisas dos meus álbuns e só chamo um gajo para tocar harpa, porque não sei tocar harpa – um bocado como o Lenny Kravitz no Five. Tocas as cenas, não está bem, retocas outra vez. Mas há muito o lado de músico sempre na equação. Se calhar é por isso que não tenho aquela tal arrogância da pop star do tremoço e da couve que há no nosso belo país lusitano.
Mas isso não será resultado de não teres chegado a uma fama muito novo?
Cheguei à fama, mas não foi por cá. Com 16 anos, sofri logo com isso. Na Suíça, tínhamos uma cena muito tipo Lenny Kravitz, estilo rock. Éramos os Pacemaker e foram 6 platinas em 4 meses. Certo que a Suíça é pequeníssima, mas nós andávamos na escola e chamavam os nossos pais e diziam-lhes: “Isto assim não dá.” Parecia uma cena dos Beatles. Nós íamos para a escola de manhã e era um stress. Aquilo foi mesmo uma cena de rockstar puto, e, aos 17, ainda és teenager e sentes na pele. Por isso é que eu não acredito muito nisso. O sucesso para mim não é a fama. Isso não é nada. Tu pegas em qualquer pessoa, pões num ecrã e pronto. É esse o lado mau da coisa. Eu acho que só agora é que estou a tentar fazer músicas que gosto realmente e que sinto.
Sendo tu alguém que esteve no Factor X, achas que os concursos da atualidade, em Portugal, ajudam um artista a crescer musicalmente, são apenas um aumento de visibilidade, ou um misto de ambos?
Ajudam. Ajudam completamente. Vê lá a quantidade de músicos: João Pedro Pais, Sara Tavares, Luísa Sobral, Salvador Sobral, Carolina Deslandes, Diogo Piçarra, Fernando Daniel, o Berg. Tu tens tanta gente que está agora no mercado e que esteve nos programas. Ajuda porque te dá aquela montra. Eu, se não fosse àquele programa, ainda hoje estava ali escondido a tocar.
Mas achas que conseguiste crescer mesmo em termos técnicos e musicais?
Completamente. E a Freemantle e o Factor X tem alta produção. São uns queridos. É talvez um bocado frio, porque desde o dia em que acaba, acabou. Mas durante o período em que estão, eles são extremamente profissionais, mesmo a um nível mundial.
Hoje vais tocar num registo um pouco mais intimista e mais pequeno. Para ti, quais são as grandes diferenças entre tocar para um público enorme e para uma audiência mais pequena?
Basicamente, posso quase fazer stand-up. Estou lá, mando umas piadas e ponho pessoas a cantar. É um momento muito: “E agora vamos tocar o quê?”, e o pessoal manda uma dica. “Olha essa, pronto, vamos tocar Cindy Lauper, ou vamos tocar Rui Veloso.” E isso é giro porque também é em casa de um amigo e ele quer fazer uma coisa especial, no sítio dele. Why not? Mas é à porta fechada, por isso também lhe dá uma certa exclusividade.
Podes dar-nos um cheirinho dos próximos projetos que tens em mente?
Olha, estou a planear fazer um disco de canções antigas da Simone de Oliveira, do Max, entre outros. Tal como fiz a “Chuva”, mas um bocadinho mais sinfónico, com cordas, mais orquestrado. Porque isso chama-me. Uma coisa assim um bocado tipo “Amália Hoje”, isto é, uma cena mais eletrónica, com orquestra. Tudo português, completamente. Eu fiz também um disco que já está nas FNAC’s e ainda não há lançamento – chama-se Colour. E estou a tentar fazer outro álbum, mas muito mais analógico e acústico. Já estou um bocado farto de estar com amigos produtores, que têm entre 19 a 25 anos, não tocam instrumentos e utilizam um MAC e um rato. Oh pá, não dá. Sinto falta de tocar coisas. Sinto falta de ter uma bateria e “micar” a bateria e aquilo dar merda e teres de fazer outra vez.
João Ribeiro
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