“TV FEST”, um festival de música promovido pelo Ministério da Cultura e anunciado esta quarta-feira, dia 8 de Abril, está previsto para começar hoje, dia 9 de Abril, às 22h, na RTP Play. Vários artistas pedem o cancelamento da iniciativa. Nas redes sociais, circula uma petição pública que conta já com mais de 18 mil assinaturas.





Promovido pelo Ministério da Cultura, a iniciativa movimenta cerca de 1 milhão de euros para apoiar artistas e equipas técnicas, afetados pelo surto pandémico provocado pelo novo vírus Covid-19.

Sob o mote “TV Fest – de casa dos artistas para a sua televisão”, o festival, dedicado exclusivamente à música portuguesa, arranca já esta quinta-feira pelas 22h00. Os concertos são disponibilizados todas as noites na RTP Play e no canal 444 das operadoras cabo (NOS, Vodafone, MEO e Nowo).

É Júlio Isidro quem irá encabeçar o programa. A cara já conhecida pelos portugueses escolheu Marisa Liz, Fernando Tordo, Ricardo Ribeiro e Rita Guerra, para abrir o festival. Cabe depois a estes quatro artistas, a seleção dos seguintes convidados. Cada programa (com duração de hora e meia) conta com quatro concertos em direto da casa dos artistas, durante um período de 30 dias. Haverá fado, pop, rock e também cante alentejano.

A iniciativa está a gerar controvérsia por parte de artistas e agentes culturais. Nas redes sociais, tem sido partilhada uma petição pública em oposição ao projeto. Lançada às 23h50 desta quarta-feira conta com mais de 18 mil assinaturas.

Assinada por vários músicos como Salvador Sobral, António Pedro Lopes (Festival Tremor), Pedro Chau e Luís Severo, pode ler-se no manifesto: “A realização do TV Fest, no presente estado de emergência, constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um sector, constituindo uma medida antidemocrática e não inclusiva”.

Na petição podemos ainda notar um pedido de imparcialidade e transparência, por parte dos artistas, no que toca à distribuição de fundos públicos, direcionados para o setor artístico e musical: A classe artística necessita de um reforço claro e objetivo à linha de apoio a artistas e entidades, de um mecanismo que reforce a sua proteção social perante o estado e legisle a sua contribuição à sociedade através do reconhecimento do seu estatuto de intermitência.

No Facebook, Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) escreve: A mim o que me preocupa são os artistas, técnicos e equipas que não têm como pagar a próxima refeição ou a próxima renda, e devia ser nesses que quem gere a cultura em Portugal devia pensar neste momento. E preocupa-me também que não haja um critério maior, nenhum, a não ser o da escolha pessoal de cada artista que é convidado a participar, na forma como se irá distribuir um milhão de euros por 120 estruturas num sector tão afetado quanto o da música. Não seria melhor distribuir esta verba por 500 estruturas ou mais? E ter a certeza que os mais fragilizados eram incluídos?

Também Salvador Sobral se manifestou com: “Embora apareça a minha fronha chapada nesta notícia, não tenho nada a ver com esta iniciativa”.

A petição apela ainda: à proteção das comunidades artísticas e culturais, à especificidade intrínseca do seu labor, à incapacidade de tal medida responder no presente a uma multiplicidade geral de casos, pedimos o cancelamento imediato do TV Fest, e o cancelamento de qualquer medida que fomente disparidades, competição e desigualdade no acesso. A classe artística necessita de um reforço claro e objetivo à linha de apoio a artistas e entidades, de um mecanismo que reforce a sua proteção social perante o estado e legisle a sua contribuição à sociedade através do reconhecimento do seu estatuto de intermitência”.

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, em declarações à agência Lusa, achou por bem cancelar o festival a poucas horas do seu início: “Como o setor reagiu tão rapidamente, com críticas, dúvidas e questões, nós vamos suspender [o TV Fest], ia estrear hoje, será suspenso hoje. Vamos repensar e perceber exatamente como manter este nosso objetivo de apoiar o setor da música e os técnicos e, ao mesmo tempo, dar a possibilidade de as pessoas receberem em sua casa música portuguesa.”

 




Adicionado por

Sara Rodrigues

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