O Cifras.pt esteve à conversa com os Capela Mortuária, no passado mês de Dezembro, durante o primeiro dia da vigésima edição do Butchery at Christmas Time.
Originários da aldeia de Salamonde, o quinteto lançou “Ossadas”, um EP de estreia que se aventura pelo thrash metal, mas com bastantes influências em diversas vertentes desse mesmo género. O grupo é constituído por Jay C (vocais), Júlio César (guitarrista), Maria Pereira (baixista), Jordi (bateria) e Pedro Arandas (guitarrista). Lê a entrevista em baixo!




Voltamos a 2015. Falem-nos um pouco do início dos Capela Mortuária.

 

Júlio César (JC) – Olha, eu sou um dos primórdios e nunca me vou esquecer: estava a fazer a passagem de ano na casa do pai deste senhor (Jordi), quando ele me diz que o filho tocava bateria. Acabou por nos convidar para ensaiarmos lá e, então, peguei no Jordi e no Pedrito, que não está aqui, e fundámos a banda. Isto na aldeia de Salamonde, no meio do nada. Conhecemos o Jay C e a Maria quando tivemos de mudar para Braga, por causa dos estudos.

 

 

E o vosso nome – Capela Mortuária – de onde veio?

 

JC Ainda hoje parece que estou a ouvir a voz do Jordi: “O padre Martinho combinou connosco para irmos ter com ele ao fim da missa!”. Eu não fui. Mas isto porque nós já ensaiávamos na casa do pai do Jordi há quase um ano. Porém, realmente, já era tempo a mais, por isso o padre deixou-nos ensaiar na capela mortuária. Ora, nós na altura não tínhamos nome, então quando demos pelo pessoal da terrinha a rotular-nos e a dizerem cenas do tipo: “Olha os Capela Mortuária!”, achámos perfeito! Um gajo andava com problemas no nome, então aquilo caiu que nem uma dádiva! Um nome meio black metal? Olha, que se f*da!

 

 

Como foi a experiência de ensaiar num local tão mítico?

 

JC Tínhamos sempre de arrumar tudo e não podíamos fazer muito barulho, mas foi bestial. Eu lembro-me dos problemas que tínhamos por causa do ruído, mas isso acontecia porque as pessoas estavam imediatamente ao lado.

 

Jordi (J) Sim, as pessoas da aldeia ficavam do tipo: “ó, mas isto é o dia todo? Boom, boom, boom, boom, boom? O meu filho trabalha amanhã!”

 

JC – Mas são coisas que não davam para alterar ou evitar, ainda por cima numa aldeia. Não podíamos pedir flexibilidade porque as pessoas não estavam habituadas àquilo.

 

 

Relativamente às vossas inspirações individuais, vocês bebem todos do mesmo copo ou cada um tem as suas influências?

 

JC – Maria, fala lá das tuas influências.

 

Maria – Ah, eu não tenho.

 

O resto da banda ri-se.

 

J – Ela nunca ouviu música na vida. Ela pegou no baixo e já sabia tocar.

 

O riso continua.

 

Jay C – A verdade é que acabamos todos por beber do mesmo copo, mas são bebidas diferentes. Temos algumas influências coincidentes, mas acabamos por vir de caminhos um bocado diferentes: o Jordi é mais virado para o thrash metal; o Júlio é mais do black e do heavy metal; a Maria vai para as cenas mais musculadas, como o death metal; e eu sou o mais pancalhão.

 

JC – Mas olha que isso é fixe, principalmente quando começámos. Houve uma fusão de conhecimentos. Eu pegava em bandas tipo Lamb of God e o Pedrinho puxava muito pelos Sepultura. Sinceramente, fiquei reticente à primeira, mas acabou por ser uma fusão incrível porque acabámos por absorver o melhor das influências uns dos outros! Foi tudo uma espécie de troca de informações à qual eu, actualmente, agradeço imenso. Não só moldou a sério os Capela Mortuária, como todos os outros projectos onde estou incluído. Além disso, o facto de ouvirmos cenas diferentes faz com que possamos sair da caixa, enquanto banda.

 

J – Basicamente, estamos a tentar reinventar a roda e fazer uma cena nova, tentando nunca cair num padrão. Queremos fazer a nossa cena.

 

JC – O que escrevemos neste último EP, por exemplo, é uma história dos últimos seis anos da banda. Queríamos vincar esse tempo, assim como todas as mudanças musicais que tivemos ao longo desse período. Agora, o que vem a seguir deverá ser uma cena mais bem definida e um pouco mais madura.

 

J – Ou se calhar não… (risos)

 

Jay C – No fundo, só queremos tocar. Saia como sair, só queremos fazer a nossa cena.

 

 

Mas acaba por haver alguma banda ou artista que um de vocês ouça e que o resto ache intolerável?

 

JC – Acho que não.

 

J – Não, há cenas que qualquer um de nós ouve que os outros não curtem muito.

 

Jay C – Sim, mas não chega àquele ponto de saturação em que não se aguenta mais.

 

 

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@capelamortuaria – Butchery at Christmas Time XX Evento organizado por Neverlate – Associação Cultural

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Falando agora no vosso EP: como foi a aventura de o gravar no I Scream Studios?

 

JC – Eu gravei a minha parte a beber uma garrafa de Licor Beirão (risos). O Diogo Agapito (produtor do EP), meu amigo e professor, fez-me um desafio: se eu conseguisse gravar uma música de uma ponta à outra, num só take, ele dava-me uma garrafa à minha escolha. Nunca consegui o raio da garrafa de uísque. Isto porque ele é bué chato, vincado e perfeccionista, mas foi por ele ser assim mesmo que se tornou tão fundamental para a gravação do EP. Os conselhos dele fizeram toda a diferença!

 

Jay C – Nós não tínhamos aquela tensão de estar num estúdio desconhecido. Nós estávamos com uma pessoa amiga, que nos fez redescobrir enquanto artistas. Por exemplo, ele tem um microfone de captação brutal e da primeira vez que experimentei aquilo fiquei tipo: “Ah, é assim que eu soo? Brutal”. Foi lá que ouvi a minha voz de actuação, de forma límpida, pela primeira vez. Enfim, foi altamente. Uma grande aprendizagem. Talvez não tanto para o Jordi, porque ele já tinha passado por estas coisas.

 

 

O que é que alguém que nunca ouviu os Capela Mortuária pode esperar do “Ossadas”?

 

J – Tem umas sonoridades um bocado variadas, mas seguimos também um pouco a mesma linha. O single “Mind Fragmentation” reflecte exactamente aquilo que fazemos, por exemplo, mas destaca-se a identidade individual de cada música, que se deve muito, voltando ao início, às influências divergentes entre toda a banda.

 

 

E porquê a escolha de “Mind Fragmentation” para single do EP?

 

Jay C – Neste caso, escolhemos a faixa que tivesse a melhor química com o videoclipe que visionávamos gravar.

 

J – Sim, podia muito facilmente ter sido outra faixa.

 

 

O videoclipe tem um conceito bastante único – todo ele é feito sob a perspectiva de uma litrosa. De onde veio essa ideia?

 

JC – Ideia do menino (Jordi) e edição da menina (Diana Nicolau).

 

 

Como é que conseguiram juntar tanta malta naquele espaço?

 

JC – É muito fácil: basta dizermos aos nossos amigos que temos lá 33 litrosas e eles caem lá todos. (risos)

 

 

Ainda sobre o videoclipe, falem-nos do processo de gravação?

 

JC – Demorou algum tempo. Não pensem que isto foi tudo num take! Aquilo demorou, até estar tudo em ordem!

 

Jay C – Foi tudo feito numa tarde, após cerca de oito takes. Tudo complementado pela maravilhosa edição da Diana.

 

JC – Mas há que dar mérito ao Jordi! Não faço ideia como é que esta ideia lhe passou pela tola! Aliás, toda a gente que nos aborda diz que aquilo está do car*lho. Foi uma ideia simples, cujas únicas despesas foram mesmo as 33 litrosas.

 

 

Da última vez que verificámos, o vídeo tinha 1,600 visualizações no YouTube. Agora, olhando em retrospectiva e tendo em conta todo o trabalho investido na obra final: é um número que vos satisfaz?

 

JC – É um número que vai crescendo…

 

Jay C – É fixe porque significa que há pessoal que ouve a nossa música, mas acho que a única satisfação é mesmo o crescimento desse número. Afinal, não há um número que me faça pensar “olha, pronto. Está óptimo. Já chega e não quero mais”.

 

JC – Não estamos à espera de um valor fixo, mas queremos que as pessoas conheçam o nosso trabalho. Hoje tocámos na Covilhã e queremos que quem nos viu tocar tenha curiosidade de ir procurar por nós na internet, amanhã.

 

 

Apesar de o metal ser a vossa praia, existe algum outro género no qual vocês gostariam de se aventurar, mesmo que de relance?

 

J – A banda Capela Mortuária quer é fazer metal! Não queremos fazer festinhas a ninguém! Contudo, todos nós temos outros projectos, sendo que alguns deles nem são de metal.

 

JC – Sim, todos nós temos mais projectos além dos Capela. Se bem que o Jordi nos ultrapassa nesse aspecto.

 

J – Queres a lista? (risos) Sim, estou em algumas bandas. Metal, reggae, punk, etc…

 

JC – Mas nos Capela Mortuária, ficamo-nos pelo metal.

 

 

Guião da Entrevista: Marianna Miquilito e João Pedro Antunes
Gravação e Edição: João Pedro Antunes




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