O Cifras.pt esteve com os veteranos lisboetas, Simbiose, no passado mês de Dezembro, no Butchery at Christmas Time. Falámos sobre os primeiros tempos do grupo, o último álbum – “Banalizatiom of Evil” – e um concerto em específico, na República Checa. Lê a entrevista abaixo!
Falem-nos acerca dos primeiros tempos dos Simbiose.
Luís – Bem, os Simbiose começaram em 1991, com um grupo de amigos. Eu não sou membro fundador. Aliás, quando os Simbiose se formaram, eu estava a ensaiar com outra banda. Eventualmente, já em 1992, recebi o convite para me juntar e, então, entrei. Ou seja, eu já era membro dos Simbiose quando foi lançada a primeira demo, “Até Quando?”. O João (Johny) também não é membro fundador, entrou depois. O membro mais antigo é o Nuno (guitarrista), apesar de ele também não ser exactamente fundador, porque entrou muito pouco depois do início da banda. Quem fundou os Simbiose foi outro guitarrista, o Libelinha, que já saiu do grupo.
Como foram os primeiros ensaios e concertos?
L – No início, nós ensaiávamos todas as semanas, todos juntos. Aliás, tínhamos de cumprir com a nossa palavra, porque na altura não havia as tecnologias que há hoje. Terminávamos o ensaio e deixávamos logo marcado o próximo. A partir daí era cumprir com o estipulado. Ora, depois de alguns ensaios, acabámos por receber convites, inclusivamente da Câmara Municipal de Lisboa, para participar em eventos de música moderna e de bandas de garagem, algo que havia bastante, na altura. Após alguns concertos, começámos a ter oportunidades de tocar em Coimbra e no Porto. Nós íamos, mas tinha de ser sempre de comboio, com o material todo atrás, já que nenhum de nós tinha carro, na altura.
O que vos motivou a manter a banda durante estes quase 30 anos?
Johny – Isso é uma pergunta complicada… Bem, nós acabamos sempre por conhecer pessoas novas e de viajar a uma data de países, à pala da banda, o que é muito fixe.
L – A sinceridade dentro da amizade também conta. Às vezes temos de dizer aos nossos amigos coisas duras que eles precisam de ouvir. Verifica-se muito isso na banda, o que nos ajuda a evoluir e a manter o passo.

Simbiose – Butchery at Christmas Time Dia 1
Relativamente ao vosso processo criativo. Como é feita a composição e todo o trabalho por detrás dos vossos projectos?
L – Cada um de nós tem a sua função na banda bem enraizada e quem está maioritariamente encarregue da nossa parte criativa é o Nuno.
J – Ele faz as músicas e é o nosso principal compositor. Ele traz as composições e nós complementamos, depois, à nossa própria maneira. Em termos de letras, eu e ele somos os principais letristas.
E esse processo criativo foi sempre o mesmo desde o início da banda até hoje?
L – Antes fazíamos tudo nos ensaios, sendo que agora é tudo mais rápido.
Falemos agora do vosso sétimo e mais recente álbum: “Banalization on Evil”, que foi lançado há poucos meses. Quais são as grandes diferenças entre este projecto e aqueles que o antecederam?
J – Os Simbiose já têm um som definido. Ainda assim, este álbum teve uma produção mais pesada. A composição também não é inteiramente igual, visto que o nosso baixista faleceu. Ou seja, continuamos a ser os Simbiose, mas com certas mudanças, principalmente nas letras.
L – Outra mudança foi o facto de ter sido a própria banda quem esteve encarregue da produção deste álbum.
J – Assim como do anterior, o “Trapped”, de 2015.
Olhando agora para o trabalho final: a reacção do público ao “Banalization of Evil” correspondeu às vossas expectativas?
L – Se calhar ainda é muito cedo para saber, já que saiu há pouco tempo.
J – Mas em termos de imprensa, temos tido um bom feedback. Eu tenho lido boas reviews.
L – Sim, apesar de não o fazemos por isso, é sempre bom saber que as críticas apreciam o nosso trabalho.
Falemos agora acerca da mensagem que tentam transmitir neste álbum, o dito crescimento e banalização da maldade e da obscenidade.
J – O nosso último álbum é uma chamada de atenção à banalização da maldade, causada pelos média, e, em especial, pela Internet. Hoje em dia é-nos dado de bandeja muito conteúdo sensível, violento e obsceno. Chega a um ponto em que é tão banal, que já ninguém liga, basta olhar para um ecrã. Se pensarmos bem, talvez esta banalização não seja o caminho mais correcto.
L – O anonimato por detrás do ecrã também ajuda.
J – E os putos de hoje em dia estão a crescer com isso. Será correcto?
Vocês já tocaram por todo o país, tanto nas áridas planícies de Beja como nas grandes metrópoles de Lisboa. E na Covilhã? É a primeira vez que pisam palcos nesta região?
L – Acho que sim. Tenho a certeza que é a primeira vez que tocamos no Butchery at Christmas Time.
E o que acham do ambiente deste festival e desta localidade – Vila do Carvalho?
L – É muito fixe. Estamos num sítio pequeno e isolado, mas está aqui muito mais gente do que estaria se fôssemos tocar em Lisboa ou no Porto. Nessas grandes metrópoles, a oferta é maior, o que significa que o pessoal se espalha mais. Aqui, o pessoal da região dá-se ao trabalho de vir cá ter para ver estes concertos. E acredito que amanhã venha ainda mais pessoal, por serem mais bandas! Mas sim, é muito agradável ver tanto pessoal num sítio como este.
Apesar de já terem tocado em imenso palcos, existe algum que ainda ambicionem pisar, um dia?
J – Nós não temos lá grandes ambições, nesse aspecto em específico.
L – Mas eu adoraria voltar a tocar no Obscene Fest, na República Checa, por ser um festival mesmo dedicado ao grind, crust e metal. Vão lá milhares de pessoas, apenas para curtir a música. Podes estar lá todo nu que ninguém vai olhar para ti [risos].
E a barreira linguística?
L – Quebrou-se totalmente. Não existia artificialidade, foi brutal.
Existe alguma banda portuguesa da nova geração do rock ou do metal que vos tenha chamado à atenção, ultimamente?
J – Há algumas, sim! Os Toxikull, por exemplo.
L – Sim, faz lembrar aquela figura do heavy metal primórdio, mesmo no palco. Voltam aos anos 80, algo que já não se vê tanto.
J – Há também os Besta!
L – O problema é mesmo a continuidade de todos esses projectos.
J – Desde que os Simbiose começaram que já vimos imensos projectos muito bons a ascenderem e a caírem.
João Pedro Antunes
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