O Cifras.pt esteve, no passado mês de Dezembro, com o Jó – baixista e vocalista dos Theriomorphic – durante o segundo dia da vigésima edição do Butchery At Christmas Time. Falámos sobre as suas influências musicais, a evolução da banda e do género do metal, desde os anos 90, e muito mais. Lê a entrevista em baixo!
Os Theriomorphic tiveram origem a partir de outra banda – os Necroterium. Houve muita inspiração na anterior, ou começaram do zero?
Jó – Uma é praticamente a continuação da outra, porque Necroterium surgiu de uma brincadeira. Quando começámos, não havia um estilo bem definido, até que houve pessoal que foi entrando e saindo e a banda foi mudando. Só no final dos anos 95/96, é que desenvolvemos um estilo mais próprio. Naquela altura, o pessoal com quem eu tocava não tinha as mesmas prioridades que eu, em relação à música. Eu sempre quis continuar com a banda, portanto, quando comecei com Theriomorphic, já tinha letras de músicas e até algumas coisas, como o logótipo e o próprio nome da banda, isto é, comecei este projecto já com ideias definidas do que é que queria fazer.
De uma forma geral, para quem nunca ouviu falar dos Theriomorphic, o que é que podem esperar de um concerto vosso?
J – Nós misturamos do metal mais melódico ao mais extremo. Normalmente, as bandas encaixam-se numa subcategoria, sendo que nós tentamos fazer uma mistura de tudo dentro do metal, ainda que alguns temas puxem mais para o heavy metal ou até mesmo para o black metal. A forma como misturamos influências diferentes surpreende o público e torna-se num som imprevisível. Assim, conseguimos ter um efeito surpresa, já que a mistura de estilos acaba por ser algo inesperado.
Já que falas de influências, quais são as tuas, no geral?
J – As minhas principais influências foram Hypocrisy e At The Gates. Duas referências, tanto em termos de voz como na parte melódica, ainda que Hypocrisy tenha uma parte mais brutal. Também fui influenciado por Dark Tranquility, no início, ou até mesmo pelos In Flames, que tinham um bocado de death metal old school dos anos 90. Quanto ao death metal melódico, já é um bocado posterior, porque vamos buscar a grandes bandas, como Iron Maiden, por exemplo.
Quando é que começaste a ouvir este tipo de géneros musicais?
J – Por volta de 1986. O hard rock andava um bocado na moda e foi quando comecei a ouvir. Aos domingos, havia tops de vendas na televisão, onde passavam os discos mais vendidos na altura. Já havia Bon Jovi, Whitesnake, Scorpions ou até mesmo bandas mais pesadas, como os Guns N’ Roses, que estavam a aparecer. Depois chegaram os Iron Maiden, Metallica e por aí fora. Fui descobrindo novas bandas e quando uma pessoa começa a apanhar-lhe o gosto, depois não tem volta.
Tens algum receio que, eventualmente, o género do death metal caia em desuso, como já foi acontecendo com outros géneros, como o funk rock?
J – Agora existe uma onda de death metal mais primitivo, isto é, acabamos por andar um bocado por modas. Ouve-se menos, mas no geral vai sempre sobrevivendo. Esta situação é geral a todos os estilos, por exemplo, o thrash – houve uma altura em que não havia praticamente bandas e depois começou a haver uma geração de thrash moderno. Em seguida, voltaram a surgir bandas do thrash mais antigo, tipo anos 80, com a franjinha e os ténis bota. O pessoal vai ouvindo e deixa-se influenciar, porém, acho que é daquelas coisas que pode andar com altos e baixos, mas que volta sempre ao ataque.
Já estás no ativo do death metal, há algum tempo. Vês algum tipo de evolução nele e nesse tipo de géneros musicais, em Portugal, desde os anos 90, até agora?
J – Nos anos 90 eu tinha ainda a primeira banda, sendo que, nessa altura, o death metal teve uma grande evolução. As bandas que estavam a explodir tornaram-se em grandes referências, ao longo do tempo, como os Dark Tranquility e os At The Gate, que surgiram mais tarde. Agora há uma nova geração de bandas no death metal, mais obscuro e primitivo, isto é, uma música menos apelativa como havia no final dos anos 80 – como Autopsy, uma banda que tinha um estilo bastante contraditório. O heavy metal acaba por ter ciclos que parecem mais monótonos. No nosso caso, como misturamos vários estilos de música, não estamos muito datados. Temos álbuns com músicas que têm 10 anos de diferença e o pessoal ouve e não sente diferença, isto é, não acha que há ali um desfasamento, já que, musicalmente, todas elas portam vários estilos e acabam por combinar entre si.
Entre o vosso primeiro e segundo álbum, passaram-se cerca de 10 anos. Durante esse tempo, achas que o vosso som evoluiu? Se sim, de que maneira?
J – Os membros da banda foram mudando e as influências também, no entanto, na minha opinião, foi como voltar ao início e fazer tudo de novo, isto é, conseguir fazer com a banda o que eu sempre quis fazer desde que comecei. Mas há sempre evolução. As pessoas com quem vou tocando também já tem outra experiência, é normal que a qualidade ao longo do tempo melhore e que acabemos por fazer tudo com outra vontade e dedicação. No início da carreira da banda, havia quem se queixasse que as músicas eram longas, por exemplo, sendo que também acabámos por mudar isso de forma natural. Sentíamos mesmo que, a tocar ao vivo, as músicas se prolongavam em demasia e isso nem sempre era benéfico, mas com o tempo tudo se vai aperfeiçoando.
10 anos é bastante tempo. Quantas músicas dispensaram neste álbum?
J – Não dispensámos nenhuma, até porque o que aconteceu foi que a banda teve uma altura mais parada, quase 1 ou 2 anos, com muito poucos concertos e isso acabou por fazer com que não ensaiássemos. Foi mais uma fase de pausas intercaladas com concertos, mas depois voltámos a compor para o EP.
O Daniel, o João e o Filipe entraram este ano na banda. Vês isso como uma espécie de rejuvenescimento dos Theriomorphic, ou até uma forma de ter novas cabeças para um novo projeto, eventualmente?
J – À medida que as coisas vão avançando, há pessoal que tem disponibilidade para se dedicar à banda e outro que não tem, por isso é natural que acabe por tentar arranjar pessoal com vontade para compor. Chegámos a ter alturas em que só quando tínhamos concertos é que estávamos juntos, por isso é que também tivemos muito tempo sem fazer nada e sem compor nada de novo. Agora, com eles, até há a possibilidade de compor coisas em conjunto, já que nos últimos anos nem isso dava para fazer, porque era pessoal que também tocava com outras bandas e tornava-se bastante complicado.
Consideras-te perfeccionista?
J – Eu não diria perfeccionista… A música é muito de sentimento e essa parte para mim pesa um bocado. Quem não é perfeccionista e trabalha com quem já o é, consegue equilibrar um bocado a situação e torna-se numa banda original.
Vocês tocaram na 1ª e na 4ª edição deste festival, assim como nesta (20ª). Fala-nos um pouco da evolução do Butchery at Christmas Time?
J – O festival já passou por 7 sítios diferentes e eu também fui acompanhando. Estive em todos, sendo que a primeira vez que nos convidaram, até foi mesmo por uma questão de empatia que se gerou. Aliás, das três bandas que tocaram na 1ª edição, nós somos a única que ainda se mantém.
Existe algum palco que gostavas de pisar, ou artistas com quem ambicionavas, eventualmente, tocar?
J – Há festivais que eu fui apanhando desde o início da banda e já toquei com algumas que eu gosto bastante, como por exemplo, Belphegor. São bandas que, aos poucos, fui apanhando, mas não há uma que eu quisesse muito, isto é, é conforme as oportunidades que aparecem. Talvez At The Gates seja uma das que nunca tive oportunidade, mas pode ser que um dia aconteça, apesar de não ser propriamente uma ambição. Quanto a palcos, até mesmo os pequeninos poderiam ser uma experiência fora do normal. Aqui em Portugal, já estivemos no Barroselas e no Vagos Open Air – festivais maiores e mais clássicos, os quais faziam parte dos que eu ambicionava e, entretanto, já foi acontecendo.
Para acabar, onde é que vos podemos encontrar, no futuro, em termos de concertos?
J – Dia 28 de Março, vamos actuar em Lamego e depois temos dia 30 de Maio, no Vialonga Fest. Entretanto, ainda estamos à espera da confirmação de mais algumas datas.
Guião da Entrevista: Marianna Miquilito e João Pedro Antunes
Gravação: João Pedro Antunes
Edição: Ana Batista
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